sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

QUANDO A DROGA ACONTECE - O TRÁFICO


Nota prévia: Este é um dos textos que se vão seguir e que pretendem trazer ao debate a realidade da droga. Se estiver interessado(a) em participar com um texto por favor envie-nos para lnsoares@aeiou.pt. Todos os contributos são enriquecedores na construção do nosso conhecimento.

O tráfico de drogas poderá, segundo dados disponíveis, ter atingido o seu pico máximo na década de 80 situando-se actualmente num valor que se estima superior a 500 biliões de dólares anuais. Este valor supera largamente o das receitas do comércio internacional do petróleo sendo apenas superado pelo tráfico de armamento.
Estes dados objectivos remetem-nos para a decomposição das relações de produção dominantes em que a mundialização dos mercados, tida como a expressão máxima do capitalismo global, foi inquinada por um comércio de destruição preponderante nas suas relações de troca.
Na base dum fenómeno de tão assustadoras dimensões estará a massificação do consumo e a popularização da droga, fenómenos que surgem nos países capitalistas desenvolvidos sinais dos tempos e das antíteses da sua decomposição.
O tráfico de drogas foi sempre um negócio capitalista, por ser organizado como uma empresa, estimulada pelo lucro. Na medida em que a sua mercadoria é a autodestruição da pessoa, o consumo expressa a desmoralização de sectores inteiros da sociedade. Os sectores mais afectados são precisamente os mais atingidos pela falta de perspectivas: a juventude condenada ao desemprego crónico e à falta de esperanças e, por seu lado, também os filhos das classes abastadas que sentem a decomposição social e moral. O primeiro episódio de consumo massivo de drogas dá-se durante talvez a mais impopular das guerras protagonizada pela "sociedade opulenta": a Guerra do Vietname. Durante o período dos conflitos, 40% dos soldados norte-americanos consumiam heroína e 80% maconha. Apenas 8% deles continuaram a consumir drogas uma vez regressados a casa.
Para se ter uma ideia da pressão que o narcotráfico exerce sobre as economias dos países atrasados basta citar este exemplo: Em 28 de Setembro de 1989, foi feita em Los Angeles a maior apreensão de cocaína até então realizada: 21,4 toneladas, cujo preço de venda ao público atingiria US$ 6 bilhões, uma cifra superior ao PNB de 100 (cem) Estados soberanos. A grande transformação das economias mono produtoras em narcoprodutoras (e o grande salto do consumo nos EUA e na Europa) produziu-se no entanto durante os anos 80, quando os preços das matérias-primas caíram vertiginosamente no mercado mundial: açúcar (-64%), café (-30%), algodão (-32%), trigo (-17%). A crise económica mundial exerceu uma pressão espectacular em favor da narco-reciclagem das economias agrárias, o que redundou num aumento excepcional da oferta de narcóticos nos países industriais e em todo o mundo em geral. Só nos últimos anos, o tráfico mundial cresceu 400%. As apreensões de carregamentos multiplicaram-se por noventa nos últimos quinze anos, apesar de apenas terem afectado entre 10 e 20% do comércio mundial.
Apesar de Portugal ser um dos países que mais tem combatido o narcotráfico a verdade é que a sua posição geográfica estratégica na triangulação marítima América do Sul, Cabo Verde, Portugal e Sul de Espanha, tem contribuído para que as drogas clássicas como a cocaína, heroína e haxixe sejam ainda predominantes com particular realce para a cocaína que chegou a superar, em apreensões da PJ, a cannabis que é ainda a droga mais consumida em Portugal. Isto contrariando as tendências internacionais em que o consumo destas drogas está a ser abandonado em prol das ditas drogas sintéticas.


(continua)

http/www.policiajudiciaria.pt/htm/diversos/RelatorioTCD2006.pdf.

7 comentários:

Iscte 72-77 disse...

Gostei muito da sua aposta nesta temática. Há muita inf mas muito dispersa.
E muita confusão. Os jovens não percebem muitas das vezes em que se estão a meter e depois quando dão por isso estão "agarrados"....

Alice Matos disse...

Esta é uma teia gigantesca...
Quem de nós ainda não sentiu os seus efeitos nefastos? Quem?

Fica bem...

SILÊNCIO CULPADO disse...

Iscte 72-77


Os jovens são como os peões no jogo de xadrez: são para ser comidos.

Há que desmistificar os barões da droga.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Alice Matos


Todos nós já sentimos. Eu tive uma familiar próxima. Também por isso não me canso nesta saga que causa tanta ruína e tanta morte para que certos impérios se sustentem.

Gostei de te rever.

Abraço

JOY disse...

Combate sem tréguas ao narcotráfico é uma necessidade que deve ser tida em conta pelos governos, apostar na divulgação eficaz das consequências do consumo de drogas principalmente nas escolas, moldura penal cada vêz mais pesada para os traficantes. Presão sobre os governos dos paises produtores para um combate mais aos traficantes.

Abraço Forte
Joy

SILÊNCIO CULPADO disse...

Joy, meu amigo quanto eu gostaria que fosse possível fazer o que preconizas. Porém há impérios e países que se sustentam do tráfico. Como é que quem está no poder ordena que se prendam aqueles que os sustentam?

Abraço

Å®t Øf £övë disse...

Lídia,
O negócio das drogas é completamente assustador, tal o impacto que depois tem na sociedade.
Bjs.