terça-feira, 7 de outubro de 2008

O NOME DA DOR



Albino Forjaz Sampaio, autor do século passado, dizia no seu livro Palavras Cínicas: “Nunca te debruçaste na alma dum paralítico? Pois a qualquer momento que o fizesses havias de o encontrar absorto na raiva de toda a humanidade não ter, como ele, a sua cadeira de rodas.”



Dizia este homem, para quem a humanidade era um sucessivo desencanto, que o espírito humano tem deformidades que o levam a desejar aos outros os seus próprios males para não sofrer sozinho a compaixão e a inferiorização dos olhares que o diminuem por ser diferente.

Se é certo que Albino Forjaz Sampaio terá sempre uma parte da humanidade que se revê nas suas teorias a verdade é que, e felizmente, também há aqueles para quem a adversidade se transforma numa causa para a vida para que outros não tenham que passar pelos mesmos infortúnios. E isto independentemente da situação de desgraça lhes ter, ou não, sido ocasionada por alguém desse universo tempestuoso que Albino Forjaz Sampaio tantas vezes encontrou no seu caminho.

O mundo do HIV espelha muito todas estas situações. Pessoas que foram infectadas por outras que conscientes da sua patologia não se inibiram de passarem a outros a doença que também receberam de forma traiçoeira qual fantasma dos seus dias escuros e incertos, discriminados e solitários.

Mas é nas grandes provas que se conhecem as grandes pessoas. Raul, proprietário dos blogues SIDADANIA foi submetido a uma delicada operação cirúrgica ao coração e está agora nos cuidados intensivos. Há 12 anos que vive com o HIV e que deixou para trás os seus sucessos e uma vida que em tudo parecia ser promissora. Há 12 anos que Raul sofre na pele a dor duma doença para a qual não há cura e que só cede em troca de danos colaterais que vai provocando com a medicação adoptada.

Porém, e apesar das limitações, Raul não desiste na sua cruzada contra a SIDA, escrevendo nos seus blogues, informando-se em congressos, visitando locais onde as prostitutas procuram os seus clientes, para lhes falar sobre a prevenção e lhes distribuir preservativos. O mesmo faz com as seringas em relação aos toxicodependentes. Todas as suas forças estão centradas neste combate e, por isso, não se lamenta.

Apenas lamenta que a sua palavra não chegue a todos, que muitos se percam por falta de esclarecimento, que muitas crianças seropositivas sejam abandonadas em instituições e nunca, ou muito raramente, sejam escolhidas para adopção.

São dele as frases que a seguir transcrevo.


“Nem sempre a vida é fácil, e nós por vezes contribuímos para a tornar ainda mais difícil com a nossa inactividade.

Quotidianamente recebemos lições de vida, muitas das quais nos passam despercebidas tão ocupados estamos olhando para o nosso umbigo, ou lamentando-nos dos nossos problemas, que em vez de nos libertarmos nos afundamos cada vez mais não vendo saída, o que poderia acontecer caso investíssemos esforço na resolução dos nossos problemas.

Quantas vezes sendo incapazes de resolver os nossos problemas não aceitamos a ajuda que nos dão por pensarmos que a mesma não chega para a solução deste ou daquele problema. Certo é que somos exigentes connosco mesmo até em receber isto ou aquilo só porque habituados a pensar quantitativamente nos esquecemos que uma grande inundação começa com uma gota de água. Queremos tudo de uma vez e na medida certa para satisfazer as nossas necessidades e acabamos por as agravar tornando o nosso sofrimento cada vez maior.

Para além disso poderei dizer que me dói a alma, não só por mim mas por todos aqueles que estão infectados, e por aqueles que em breve passarão a estar porque a mensagem dos perigos da SIDA não foi passada e ela só acontece aos outros.”



5 comentários:

Odele Souza disse...

Querida Lidia,

Todos estamos na torcida para que Raul se recupere rapidamente e possa não só voltar ao comando de seus blogs como a compartilhar os conhecimentos que tem sobre a Aids, e seguir ajudando pessoas.

Se estiver com ele, por favor, dê-lhe um abraço meu.

pikenatonta disse...

Normalmente os posts que mexem mais comigo deixam-me sem palavras... Quero comentar e nunca sei que dizer... Por isso fica apenas um beijinho para o Raul...

***

Å®t Øf £övë disse...

Lídia,
Costumo ler o que o Raul ecreve, e apenas te digo que pessoas como ele fazem muita falta para ajudar a combater esta verdadeira epidemia. Espero e desejo que tudo lhe corra pelo melhor, porque se há alguém que o mereça, esse alguém é ele.
Beijinhos.

JOY disse...

Deixo ao Raul um abraço de solidadriedade, e que consiga como sempre o tem feito, ultrapassar este momento mais complicado. Rápidas melhoras e que tudo lhe corra bem é o meu desejo.

Joy

Fátima disse...

Amiga,

A minha solidariedade para o Raul (grande beijo amigo).

Bom Domingo

:-) beijo