terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A USURPAÇÃO...

A RESISTÊNCIA
A Vila de Olivença, em frente de Jeromenha e a 12 km do Guadiana, foi conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques. A expansionismo do reino de Castela, ameaçou deste logo a presença dos portugueses no lugar. O assunto foi resolvido no Tratado de Alcanises, em 1297.



Pressentindo o perigo, que corria do lado de Castela, o rei D. Dinis mandou povoá-la e fortificou-a com o seu altaneiro castelo e cintura de muralhas (1298).


Face a novas ameaças, D. Afonso V (1438-81), mandou reparar as suas muralhas e ampliar a cerca muralhada. O aumento da sua população tornava imperioso esta medida.
D. João II concedeu-lhe um brasão de armas, e mandou erigir a torre de menagem no centro do castelo (1488). No reinado de D. Manuel (1495-1521), reedificou-se toda a estrutura de defesa da vila, construindo-se uma ponte sobre o Gaudiana, permitindo uma melhor ligação com Elvas.
A formação que entretanto ocorrera do reino de Espanha (1492), passou a constituir uma ameaça redobrada. O seu fanatismo religioso, aliada a uma crueldade sem limites passou a representar um perigo para a Europa, não apenas para Portugal.

Após a restauração da Independência de Portugal do domínio de Espanha (1580-1640), Olivença passa a estar no centro das incursões do sanguinário exército espanhol, onde abundavam mercenários estrangeiros. A população de Olivença é por diversas vezes vítimas de massacres e saques, mas resiste. As suas muralhas são reforçadas, sob a direcção de Matias de Albuquerque. Estas obras foram custeadas pelo próprio povo de Olivença.
Durante 16 anos, os espanhóis tentaram tomar a vila: Entre os torcionários espanhóis que comandavam estas investidas registam-se as do marquês de Toral (1641), marquês de Leganés (1645), o mercenário e jesuíta flamengo Cosmander (1648). Todas estas tentativas foram frustadas. Em 1657, o mercenário italiano ao serviço de Espanha, o Duque de San Germano, á frente de 8.000 homens teve maior exito e tomou a vila.Dez anos depois, os espanhóis voltam a sair daquilo que se haviam assenhorado, sob o comando de um mercenário. Olivença voltava a fazer parte de Portugal.


Desde o século XII até 1801, Olivença constituiu uma das principais vilas de fronteira de Portugal. Milhares dos seus habitantes ao longo de gerações morreram por Portugal, a sua terra, cultura e identidade. A História de Portugal está indissociavelmente ligada a Olivença e esta a Portugal. Este é um facto incontornável.



CULTURA
Entre o século XII e 1801, desenvolveu-se em Olivença uma notável actividade cultural que ainda hoje é visível nos seus monumentos, apesar do saque e destruição que a Espanha fez ao longo de 200 anos de ocupação.
Ao visitá-la temos a mesma sensação que sentimos quando percorremos as localidades onde existem ruínas dos aztecas, mais, incas e tantos outros povos da América Latina. Tratam-se tão somente de ruínas. É preciso algum esforço da imaginação e informação prévia para as tornarmos vivas, dado que a cultura que encarnam só muito vagamente têm a ver com a população que aí vive.
Ainda que estas populações possam ter origem nos antigos povos que as construíram, a verdade é que as suas memórias colectivas foram cuidadosamente apagadas para permitir a sua substituição pelas referências do invasor. No caso de Olivença os nomes portugueses foram substituídos por espanhóis, brasões arrancados, os símbolos de Portugal destruídos, etc.
Aquilo que eram coisas carregadas de significado, tornaram-se pedras cujo sentido se perdeu. Neste aspecto Olivença constitui um dos melhores exemplos de etnocídios na história contemporânea da Europa.
Temos pois que evocar pessoas e algumas referências históricas para perceber estes vestígios e dar-lhes vida. Fenómeno típico em todos os locais do mundo onde ocorreram etnocídios.




Pessoas

Olivença, a nobre e leal terra portuguesa, foi o berço da família de Vasco da Gama aí nasceu o pai deste ilustre navegador.

Apesar de abastardadas as suas casas apalaçadas, não deixam de evocar os seus os seus antigos moradores, como os Marçais, os Sousas ou os Duques do Cadaval. Muitas delas foram usurpadas pelo Estado Espanhol para aí instalar os seus símbolos de poder. No solar dos Duques do Cadaval, que ostenta o seu magnífico portal manuelino, está instado o Ayuntamiento da cidade.




Igrejas
Os padres espanhóis, acumulando uma longa experiência histórica de conversões forçadas de muçulmanos e judeus, dedicaram-se a converter à cultura espanhola o que restava das populações portuguesas. Tiveram um papel importante neste etnocídio. Não foram contudo capazes de destruir os templos construídos pelos portugueses, muito embora os saques continuem até aos nossos dias.



Entre as igrejas de Olivença, destacam-se a manuelina Igreja da Madalena, antiga Sé da Diocese de Ceuta, a cidade que hoje é reclamada à Espanha por Marrocos e que durante séculos foi administrada por Portugal. A construção desta Igreja ficou a dever-se a ao Bispo Henrique de Coimbra, companheiro de Pedro Alvares Cabral no descobrimento do Brasil



Fortificações
Símbolos da defesa de uma identidade usurpada pela Espanha, continuam a erguer-se altaneiros malgrado a sistemática destruição que este país paulatinamente vai realizando.
Em lugar estratégico ergue-se o seu castelo e a sua torre de menagem medievais (37 metros de altura). Devem ainda referir-se os baluartes seiscentistas com a elegante Porta do Calvário e a torre do quartel do Dragões de Olivença datado do período pombalino (século XVIII).



Traçado da Cidade
Onde melhor podemos observar os vestígios de Olivença é no tipo de construção de muitas das suas casas (alvenaria, cal, cantaria, imponentes chaminés, etc), cujos elementos são em tudo idênticos às vilas portuguesas do Alentejo.



Comida
Ainda até meados do século XX, Olivença distinguia-se da Extremadura espanhola pela excelência da sua gastronomia e doçaria. O etnocídio que aqui ocorreu destruiu entretanto uma das maiores riquezas desta terra.



Povoações do Concelho de Olivença
A destruição dos Vestígios Incómodos
S. Francisco, S. Rafael, Vila Real, S. Domingos de Gusmão, S. Bento da Contenda, S. Jorge de Alor e Talega


A legitimação da usurpação
A Espanha desde 1801 que procura justificar-se, justificando aquilo que não tem justificação entre dois povos vizinhos e que viviam uma relação pacífica.
Ao longo de 200 anos, tem desenvolvido toda uma argumentação similar, por exemplo, à usada por Adolfo Hitler fundamentar o direito de invadir e ocupar os povos vizinhos.
Esta argumentação é hoje difundida através da Internet no site a Diputación de Badajoz (DB), onde explicitamente são assumidas teses que inspiraram o nazismo.
Á luz do direito Internacional, e nomeadamente da Declaração Universal do Direito do Homem são textos que devem merecer a mais completa repulsa de qualquer ser humano.


Anular Memórias.
Rectificar a História
Hitler mandou destruir a aldeia dos seus pais para que nada se soubesse das suas origens. As lápides dos cemitérios, os arquivos onde constassem os seus registos, os pessoas que os conheceram, tudo se tornou numa ameaça pessoal. Hitler temia que fossem descobertos antepassados judeus.


Estaline mandou retocar fotografias e cartazes para apagar as imagens dos seus adversários políticos. Todos aqueles que suspeitava que pudessem conhecer factos que contrariassem a versão oficial da sua vida foram aniquilados. Depois uma legião de historiadores criaram uma história da Rússia adequada à legitimação do seu poder.


Em Olivença tudo isto se passou durante dois séculos. O próprio nome desta vila portuguesa começou por ser rectificado: em vez de Olivença, os espanhóis escreveram "Olivenza". A intenção é sempre a mesma: apagar, rectificar para criar o vazio, possibilitando desta forma a construção de uma outra história mais adequada à legitimação da barbárie.


BIBLIOGRAFIA...
Um Homem Bom. Aristides Sousa Mendes, o "Wallenberg Português", de Rui Afonso. Lisboa. Editorial Caminho.1995

A História Inumana. Massacres e Genocídios das Origens aos Nossos Dias, Guy Richard (Dir.).Lisboa. Instituto Piaget.1997
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